O que é o circuit breaker

O circuit breaker é um mecanismo de emergência utilizado pela bolsa de valores para paralisar temporariamente as negociações de ativos no mercado em momentos atípicos e de grande volatilidade. No momento em que o circuit breaker é ativado, não será possível realizar compras ou vendas de ativos.

Importante notar, que em português a palavra “circuit breaker” significa “disjuntor”. Isso mesmo, aquele dispositivo que serve para cortar a energia quando ocorre um pico de eletricidade.

A diferença entre um disjuntor comum e o “disjuntor da bolsa”, é que o primeiro serve para proteger as pessoas em casa, cortando a eletricidade em momentos atípicos. Já o segundo, protege os investidores, pausando as negociações em momentos de grande queda.

Para entendermos melhor, no Brasil, este mecaniscmo é acionado quando o Ibovespa, o principal índice de ações da bolsa brasileira, a B3 (Bolsa Brasil, Balcão), cai mais do que 10% em uma sessão de negociação, independentemente do motivo.

Durante o congelamento das negociações, a ideia é que a pausa sirva para que os investidores esfriem a cabeça, analisem os eventos com calma e reflitam se determinado movimento de preços realmente é racional, de modo que não realizem uma negociação que possam se arrepender durante um momento de pânico.

Com isso dito, neste artigo nós iremos explorar quando este mecanismo foi criado, como ele funciona, qual foi a sua história no Brasil, como ele opera no exterior e tudo o que você precisa saber para que não reste mais nenhuma dúvida sobre o tema!

 

Circuit Breaker - Capa

Quando e porque foi criado

O primeiro circuit breaker foi introduzido nos Estados Unidos após o dia que ficou conhecido como Black Monday, em 19 de outubro de 1987, quando o índice acionário norte-americano Dow Jones Industrial Average (DJIA) caiu 22,6%, o que representou uma queda de 508 pontos em apenas um pregão.

Com esse acontecimento, o então presidente dos EUA, Ronald Reagan, reuniu uma força tarefa especializada em mecanismos de mercado conhecida como “Brady Commission” para investigar os motivos do desabamento.

A força tarefa, liderada por Nicholas Brady, emitiu um relatório contendo quatro pontos principais, um dos quais recomendava que a agencia regulatória escolhida para monitorar o mercado de capitais fosse responsável por projetar e implementar um limite de queda temporária nos preços, que passaria a ser conhecida então como circuit breaker.

A ideia original para a criação deste mecanismo não era prevenir uma volatilidade dramática porém justa nos preços, mas sim criar uma maneira onde haja tempo suficiente para que ocorra uma comunicação efetiva entre todos os traders e especialistas do mercado, assim permitindo que se estabeleça um melhor fluxo de informação.

Após a recomendação e implementação nos Estados Unidos, os circuit breakers passaram a ser um mecanismo implementado nas bolsas de valores por todo o mundo, inclusive no Brasil.

Como funciona

Os circuit breakers possuem o propósito de pausar temporariamente as negociações durante uma severa volatilidade de mercado. Esta sua essência sempre será a mesma, porém, em cada país o seu funcionamento e regras podem diferir.

Abaixo iremos explorar quais são as regras de funcionamento do circuit breaker no Brasil.

Aqui,  o seu acionamento é feito em 3 estágios, obedecendo um percentual de desvalorização do índice Ibovespa:

#1 Primeiro Estágio – Queda de 10% no Ibovespa

O primeiro estágio ocorre quando o o Ibovespa se desvaloriza 10% em um pregão com relação ao seu preço de fechamento do dia anterior. Quando isto ocorre, as negociações de compra e de venda de ativos são interrompidas por 30 minutos.

Exemplo: se o Ibovespa fechar aos 100 mil pontos, o circuit breaker será acionado caso a bolsa caia para 90 mil pontos no dia seguinte. Após os 30 minutos de paralisação, as negociações serão retomadas.

#2 Segundo Estágio – Queda de 15% no Ibovespa

O segundo estágio do circuit breaker irá ocorrer após a reabertura das negociações em casos em que o Ibovespa sigue caindo e atinge uma oscilação de queda de 15% em relação ao preço de fechamento do dia anterior.

Desta vez, as negociações serão pausadas por 1 hora.

Exemplo: após a reabertura do mercado, o segundo circuit breaker irá ser acionado caso o índice atinja os 85 mil pontos, representando 15% de queda em relação ao fechamento anterior, que era de 100 mil pontos.

#3 Terceiro Estágio – Queda de 20% no Ibovespa

Este é o estágio final do circuit breaker, projetado para acontecer em situações extremas onde o Ibovespa ainda segue caindo mesmo após as duas paralisações anteriores e atinge uma queda de 20% em um único dia quando visto em relação ao fechamento da bolsa do dia anterior.

Neste cenário, a bolsa irá fechar por tempo indeterminado e a B3 fará uma comunicação através de seus canais oficiais. Geralmente, o terceiro estágio dura até o próximo dia útil de negociação.

Exemplo: após a segunda reabertura, a bolsa dá uma respirada porém segue caindo momentos depois, chegando a atingir os níveis dos 80 mil pontos, o que representa uma queda de 20% levando em consideração os 100 mil pontos do fechamento anterior. Nesta situação, a B3 irá interromper as negociações de novo, desta vez, por um período que será por ela definido.

Com isso, para fazer um resumo das regras apresentadas, vamos expor uma tabela abaixo para consolidar a informação passada:

Nível de queda do Ibovespa Tempo de paralisação do mercado
10% em relação ao pregão anterior 30 minutos de paralisação
15% em relação ao pregão anterior 1 hora de paralisação
20% em relação ao pregão anterior Pausa por tempo indeterminado que será estipulado pela B3. (Usualmente até o dia seguinte)

Vale mencionar que o circuit breaker não pode ser ativado durante os últimos 30 minutos pertencentes a uma sessão de negociação da bolsa.

Portanto, caso uma interrupção venha a ocorrer a até uma hora do horário final de negociações de ativos, o horário de encerramento de negociações será prorrogado por até mais 30 minutos.

Exemplo: durante um dia de negociação, a bolsa de valores vem a se desvalorizar 10% exatamente às 16:10 da tarde e as negociações são interrompidas por 30 minutos, sendo que o seu fechamento estaria marcado para ocorrer às 17:00.

Se isso acontecer, a B3 poderá adiar o fechamento da bolsa até 17:30, se necessário. Isto acontece pois a bolsa precisa de ao menos 30 minutos de negociação ininterrupta de ativos para realizar o encerramento de seu pregão.

Existe circuit breaker de alta?

Na bolsa brasileira não existe circuit breaker de alta quando tratamos do mercado a vista de ações, apenas de baixa.

Essa informação pode ser constatada no conjunto de regras estipuladas nos avisos ao mercado divulgados pela própria B3.

O exemplo acima, é relativo ao aviso feito para o mercado no dia do último circuit breaker do ano de 2020, no dia 18 de março. Nele não consta nenhuma menção a paralisações com oscilações de alta.

Outra forma de verificar esta informação é através deste comunicado da B3 delimitando os limites de oscilação do mercado. Mais uma vez, apenas oscilações de queda são mencionadas como causadoras de circuit breakers.

Além disso, o dia 13 de março de 2020 pode ser entendido como o último dia até então em que o Ibovespa apresentou uma variação diária positiva de mais de 10%, com o índice apresentando uma alta de 12,82% em um único pregão. Neste dia, o circuit breaker não foi acionado.

Isto levando em conta ainda que nos dias úteis diretamente anterior (12 de março de 2020) e posterior (16 de março de 2020) houveram uma desvalorização do índice acima de 10%. Em ambos os dias houveram circuit breaker.

A partir disso, podemos confirmar a informação passada de que circuit breaker na bolsa brasileira para o mercado a vista de ações, ocorre apenas com variações de baixa.

O que fazer durante um circuit breaker

Para qualquer investidor de renda variável, passar por um circuit breaker não é uma das coisas mais agradáveis do mundo.

A ativação deste mecanismo significa que o seu investimento está potencialmente sofrendo uma grande desvalorização, o que irá levar embora anos de poupança duramente acumulada e aportada na bolsa com a esperança de uma rentabilização futura, muitas das vezes até mesmo para aposentadoria…

Caso você se encontre nesta situação, não se desespere. A primeira coisa a entender é que circuit breakers são eventos atípicos no mercado de capitais cuja ativação significa que algum acontecimento relevante ocorreu que levou os investidores em pânico a venderem as suas ações a preços muito menores no mercado.

Entretanto, se você é um investidor de longo prazo, muitas das vezes essas movimentações de curto prazo não devem te tirar do caminho. Para compreender o porque disso, é necessário ter o entendimento claro de que o que leva os preços das ações para cima no futuro é o crescimento dos lucros das empresas que você investe.

Desta forma, se o seu investimento foi feito em boas empresas, independentemente se o país está passando por uma crise ou não, elas sobreviverão e continuarão vendendo os seus serviços e gerando caixa.

Muitas das empresas da bolsa brasileira, em realidade, já passaram por diversas crises ao longo dos anos. Elas tiveram as suas ações desvalorizadas, passaram por um tempo de baixa, e depois recuperaram e superaram os preços pré-crise.

Com isso em mente, os passos a serem tomados em uma situação caótica de circuit breaker serão:

  1. Avalie a situação com critério: não se deixe levar pelo efeito manada vendendo as suas ações somente porque outras pessoas estão vendendo. Avalie o que ocorreu e como o evento que desencadeou o circuit breaker irá impactar as empresas que você investe.
  2. Saiba diferenciar preço e valor: tenha em mente que o preço pelo qual uma ação está sendo negociada pode não condizer com o valor que ela possui, principalmente no curto prazo e em situações de pânico. Investidores desesperados irão querer se livrar de suas ações a qualquer preço, o que talvez pode até mesmo representar uma oportunidade de compra.
  3. Entenda que boas empresas passam por crises: se você investe em boas companhias, entenda que as mesmas possuem um histórico de sobreviver a crises e prosperar no longo prazo com o crescimento de seus lucros. Entenda que uma crise, em 100% dos casos até hoje, não representaram o fim do mundo. Quando elas passarem, as grandes empresas continuarão existindo e o mercado de capitais também continuará existindo.

História do circuit breaker no Brasil

Durante os anos de funcionamento da bolsa de valores no Brasil, o circuit breaker já foi ativado um total de 23 vezes, em 6 anos diferentes. O mais recente sendo em 2020, devido a crise do coronavírus.

Abaixo nós iremos explorar quais foram os motivos que levaram a ativação deste mecanismo para todos os anos de ativação:

1997 – Crise Asiática

A crise asiática foi um período de recessão econômica que atingiu grande parte dos países da Ásia em 1997.

Ela teve um grande impacto principalmente sobre os “tigres asiáticos”, um conjunto de países emergentes do sudeste da Ásia que, no momento, se destacavam por um grande crescimento e desenvolvimento econômico.

Em outubro deste ano, a Bolsa de Valores de Hong Kong registrou uma queda de 10,4%, corroborando para derrubar outras bolsas ao redor do mundo. 

A Bovespa, a bolsa de valores do Brasil na época, sentiu o efeito da crise nestes países asiáticos e implementou a paralisação automática de negociações pela primeira vez.

Em total, o circuit breaker foi acionado 3 vezes neste ano, conforme destacado abaixo:

Dia de Paralisação Estágio atingido de Circuit Breaker Fechamento do Ibovespa no dia
28 de outubro Primeiro Estágio 6,42%
7 de novembro Primeiro Estágio -6,38%
12 de novembro Primeiro Estágio -10,20%

 

Estes foram os primeiros circuit breakers da história da bolsa brasileira.

1998 – Crise Russa

Logo após a crise asiática, algo semelhante aconteceu com a Rússia de 1998.

No ápice da crise, em agosto, o país russo inclusive chegou a pedir moratória, afirmando que não seria capaz de quitar as suas dívidas. Como não podia ser diferente, esta crise impactou fortemente os mercados financeiros mundiais.

No Brasil, o Ibovespa acionou o circuit breaker 5 vezes durante os meses de agosto e setembro deste ano.

Dia de Paralisação Estágio Atingido de Circuit Breaker Fechamento do Ibovespa no dia
21 de agosto Primeiro Estágio -2,85%
4 de setembro Primeiro Estágio -6,13%
10 de setembro Primeiro Estágio -15,82%
10 de setembro Segundo Estágio -15,82%
17 de setembro Primeiro Estágio -4,87%

1999 – Câmbio Flutuante

Os dois períodos anteriores de paralisação nas negociações da bolsa brasileira foram devidos a fatores externos que acabaram impactando o nosso país.

Já a crise de 1999, foi diferente. Em janeiro deste ano, o Brasil se viu diante de uma das maiores e mais abruptas desvalorizações que sua moeda já sofreu. Isso ocorreu durante o período de transição de regimes cambiais, onde o Banco Central resolveu abandonar o regime de bandas cambiais e passar a adotar o regime de câmbio flutuante.

Durante esse período, o Bacen se viu obrigado a negociar dólares no mercado futuro, aumentando a quantidade de dólares no nosse caixa, o que contribui para queda do real e resultou na queda das ações na bolsa.

Durante este ano, a bolsa sofreu paralisação duas vezes.

Dia de Paralisação Estágio atingido de Circuit Breaker Fechamento do Ibovespa no dia
13 de janeiro Primeiro Estágio -5,04%
14 de janeiro Primeiro Estágio -9,96%

 

2008 – Crise do Subprime nos Estados Unidos

Esta é uma das crises mais famosas já ocorridas. Mesmo quem não possuí nenhum envolvimento com o mercado financeiro se lembra muito bem da crise americana de 2008, uma das maiores da história.

A crise do subprime, também conhecida como a “bolha imobiliária americana”, foi causada pela inadimplência por parte dos americanos no pagamento de dívidas atreladas ao mercado imobiliário, o que contribuiu para arrastar várias instituições financeiras americanas para a situação de insolvência.

Como resultado disso, o mercado financeiro acabou entrando em colapso. Entre setembro e outubro deste ano a bolsa passou pelo maior números de paralisações em um mesmo ano. Um total der 6 circuit breakers, que se deram conforme a tabela abaixo:

Dia de Paralisação Estágio atingido de Circuit Breaker Fechamento do Ibovespa no dia
29 de setembro Primeiro Estágio -9,36%
6 de outubro Primeiro Estágio -5,43%
6 de outubro Segundo Estágio -5,43%
10 de outubro Primeiro Estágio -3,97%
15 de outubro Primeiro Estágio -11,39%
22 de outubro Primeiro Estágio -10,18%

 

2017 – Delação da JBS

Também conhecido como “Joesley Day”, a crise de 2017 ocorreu devido a divulgação de um conteúdo contendo uma conversa entre o ex-presidente Michel Temer e o empresário Joesley Batista, dono da empresa JBS.

Na gravação, foi possível escutar o então presidente dando aval para que fosse comprado o silêncio do ex-presidente da câmara de deputados, Eduardo Cunha.

A divulgação do caso lançou o governo em sua maior crise, paralisou a discussão sobre as reformas e gerou questionamentos sobre a capacidade de sobrevivência do poder Executivo.

Existia risco de que Temer sofresse impeachment e este fato desencadeou uma instabilidade política enorme, em pleno momento em que se tentava aprovar a reforma da previdência, o que agravou a situação e o humor do mercado, tornando esse dia desastroso para a bolsa de valores.

Dia de Paralisação Estágio atingido de Circuit Breaker Fechamento do Ibovespa no dia
18 de maio Primeiro Estágio -10,47%

2020 – Crise do Coronavírus

Esta é a crise mais recente vivenciada pela bolsa de valores e pelo mundo.

No final de 2019, um vírus foi identificado pela primeira vez na China, na cidade de Wuhan. O vírus, altamente contagioso, começou a se espalhar rápidamente pelo país, causando muita preocupação e milhares de mortes..

Este evento, é claro, colocou o mundo em alerta.

Porém, não o suficiente… No primeiro semestre de 2020 o vírus não somente se espalhava pela China, mais pelo mundo todo, que entrou em um estado de pânico

Para tentar ajudar a frear as contaminações e as mortes, os países começaram a fechar as suas fronteiras e as suas economias, o que impactou gravemente as empresas, principalmente as que trabalham com viagens.

Com o pânico gerado e com as empresas tendo os seus negócios paralisados, o mercado financeiro passou então pelo seu pior ano desde a crise de 2008.

6 circuits breakers foram acionados neste ano, todos no mês de março, no ápice da crise no Brasil.

Dia de Paralisação Estágio atingido de Circuit Breaker Fechamento do Ibovespa no dia
9 de março Primeiro Estágio -12,17%
11 de março Primeiro Estágio -7,64%
12 de março Primeiro Estágio -13,91%
12 de março Segundo Estágio -13,91%
16 de março Primeiro Estágio -13,92%
18 de março Primeiro Estágio -10,35%

Circuit Breaker nos Estados Unidos

Assim como no Brasil, nos Estados Unidos os circuit breakers são divididos em 3 estágios.

Porém, as regras de funcionamento diferem um pouco das nossas aqui.

Primeiramente, é necessário entender que nos EUA existem diversas bolsas de valores, sendo que as duas principais bolsas são a New York Stock Exchange (NYSE) e a National Association of Securities Dealers Automated Quotation System (Nasdaq).

Todas as bolsas, irão obedecer as seguintes regras para ativação do circuit breaker:

  • Estágio 1 – Desvalorização de 7% no S&P 500: irá acionar uma paralisação no mercado de 15 minutos.
  • Estágio 2 – Desvalorização de 13% no S&P 500: irá acionar mais uma paralisação de de 15 minutos.
  • Estágio 3 – Desvalorização de 20% no S&P 500: irá acionar uma paralisação pelo resto do dia, com a bolsa apenas retomando as negociações no dia seguinte.

Importante mencionar que os circuit breakers não são acionados nos Estados Unidos desde 27 de outubro de 1997, no ano da Crise Asiática. Inclusive, este foi o primeiro acionamento do mecanismo nas bolsas americanas desde a criação do instrumento 10 anos anterior a sua ativação.

Categorias: Bolsa de Valores

Renan Ferreira

Graduado em Engenharia de Produção, possui o certificado CPA-20 e anos de experiência com investimentos no mercado financeiro. Trabalha há 2 anos no Banco IBM e é fundador da Sociedade do Investidor.

1 comentário

Efeito Manada na Bolsa de Valores: O Que é e Como Evitar · Julho 16, 2021 às 8:06 am

[…] devido a justamente isso que a Bolsa de Valores possui o Circuit Breaker […]

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