O que é a Marcação a Mercado?
A marcação a mercado, em inglês mark to market (MTM), pode ser vista como uma metodologia utilizada para medir o preço de um investimento no mercado financeiro de acordo com o seu valor atual de negociação.
O objetivo desta prática é proporcionar uma avaliação realística da situação financeira de um investidor ou de uma instituição com base nas condições atuais de mercado.
Sem utilizar a marcação a mercado um investidor desavisado pode acreditar que está indo bem no seu investimento, quando na verdade ao tentar vendê-lo, ele perceberá que está perdendo dinheiro.
Entendendo a Marcação a Mercado
Ao investir na bolsa de valores, é possível perceber que os preços das ações negociadas flutuam todos os dias. Desta forma, é fácil visualizar que o patrimônio das pessoas que investem neste tipo de instrumento irá variar. Afinal de contas, este é um investimento classificado como renda variável.
Como comentamos, é fácil se dar conta da marcação de mercado neste tipo de investimento, já que seu patrimônio em sua corretora irá se ajustar com base nos preços atuais das ações diariamente, e isso é esperado devido ao perfil do investimento.
O que algumas pessoas não sabem, entretanto, é que investimentos de renda fixa também possuem esta variação diária, que por sinal, podem diferir da taxa de rentabilidade estabelecida no momento do investimento.
Isto acontece porque os investimentos em renda fixa, como mencionado, são marcados a mercado, obedecendo a dinâmica do mercado de títulos (quando a taxa de juros cai, o preço dos títulos sobem e vice-versa), que pode ser favorável ou não ao investidor, dependendo das condições econômicas.
Se o preço de determinado título de renda fixa pré fixado seguisse exatamente a taxa de investimento acordada no momento do investimento, nós diríamos que ele está sendo marcado pela curva do papel.
Marcação a Mercado Vs Marcação pela Curva do Papel
A marcação pela curva do papel se refere a prática de precificar a posição financeira em determinado investimento com base no cálculo com utilização do modelo financeiro deste investimento.
No caso dos investimentos em renda fixa, por exemplo, o investimento irá evoluir ao longo do tempo sendo precificado através da fórmula dos juros compostos, que pode ser entendida como:
Juros Compostos = m * (1+i)^n
Onde:
m = montante inicial
i = taxa de juros
n = número de períodos
Ou seja, se você investe em um título com o Preço Unitário (PU) de R$ 620, que rende 10% ao ano, durante 5 anos. De acordo com a marcação pela curva do papel, daqui a 2 anos este título estará precificado aproximadamente como:
Preço do titulo em 2 anos = 620 * 1,1^2 = R$ 751
É interessante perceber que muitas pessoas acreditam que é assim que os seus investimentos serão precificados no mercado financeiro, inclusive, até 2002 era assim que os fundos de investimentos precificavam suas posições.
Porém, como este tipo de precificação não reflete a realidade, neste ano a CMV estabeleceu que os fundos de investimentos brasileiros devem realizar a marcação a mercado ao invés da marcação na curva, a não ser que eles possam comprovar que poderão manter o título em carteira até o vencimento.
Isto acontece porque neste cenário o investimento em renda fixa irá render exatamente o que foi acordado.
Quais fatores interferem na Marcação a Mercado
Existem dois principais fatores que interferem na forma como um ativo será marcado a mercado:
- Liquidez
- Perfil do Ativo
Liquidez
Um ativo que possui uma liquidez alta no mercado irá apresentar uma marcação a mercado que melhor reflete a realidade, já que havendo mais pessoas negociando um título, maiores são as chances de uma precificação justa ser feita.
Por outro lado, ativos ilíquidos irão apresentar preços que podem em algum momento estarem distorcidos, por que uma pessoa que precisa vender um título, e não encontra prontamente comprador, irá aceitar um valor mais baixo por este título…
Além disso, existe ainda a possibilidade de determinado título não ser negociado durante longo períodos de tempo, o que irá causa um impacto negativo em sua precificação, que permanecerá desatualizada durante este período.
Perfil do Ativo
Ativos diferentes possuem diferentes formas de serem precificados, de acordo com o seu perfil.
Um título de renda fixa pós fixado no brasil, por exemplo, irá ser corrigido ao longo do tempo de acordo com a taxa Selic, CDI ou algum outro benchmark encontrado no mercado.
Caso a taxa de juros no mercado diminua, ou aumente, este título irá apresentar uma precificação diferente, porém sempre positiva.
Já um título de renda fixa pré fixado no brasil, a principio terá um nível de rentabilidade pré definido, caso levado até o vencimento.
Entretanto, em caso de venda antecipada o preço deste título é influenciado pela dinâmica do mercado de títulos e valerá mais caso a expectativa da selic futura seja menor e valera menos caso seja maior.
Este Titulo poderá até mesmo apresentar uma rentabilidade negativa em alguns casos quando vendido antecipadamente.
Um título hibrido, que é corrigido pela inflação, por exemplo, e possui uma parcela pré fixada, como o Tesouro IPCA disponível no Tesouro Direto, terá a sua parcela pre fixada sendo precificada pela dinâmica do mercado de títulos e sua parcela de inflação sendo corrigida pelo índice inflacionário determinado.
Por último, ativos de renda variável serão precificados no longo prazo de acordo com a oferta e a demanda do ativo, com base em seus fundamentos. No curto prazo, entretanto, a precificações desses ativos tendem a seguir a teoria do passeio aleatório, se tornando imprevisíveis.
Exemplo de Marcação a Mercado
Para o nosso exemplo, vamos estabelecer um cenário onde um investidor irá realizar um investimento em um título de renda fixa pré fixado com uma rentabilidade de 10% ao mês.
Este título terá uma maturidade de 5 anos e no final deste período ele valerá R$ 1000 (valor de face). Porém, se passando o primeiro ano a taxa de juros muda de 10% para 12%, afetando assim a marcação a mercado deste título.
Podemos ver este cenário representado na tabela abaixo:
Como podemos observar, seguindo a marcação na curva a rentabilidade do título se dá de acordo com os juros compostos, com base na taxa de rendimento estabelecida de 10%.
Porém, como a taxa de juros subiu de 10% para 12%, de acordo com a dinâmica do mercado de títulos, o preço a mercado deverá cair.
Isto acontece porque o valor de face será sempre R$ 1000 e como agora a taxa de juros é maior, o valor deste título há de diminuir para que no final do período este valor se encontre em R$ 1000.
Caso isto não aconteça o valor passará de R$1000, que é o valor de face. Abaixo poderemos ver o gráfio de evolução das diferentes marcações:
Como visto acima, apesar do preço do título marcado a mercado cair, a sua taxa de juros é mais alta, o que faz a sua curva ser mais acentuada e terminar no mesmo patamar do que o título marcado na curva.
Transferência de riqueza entre os cotistas
Um dos grandes motivos pelo qual a marcação a mercado foi adotada no mercado brasileiro em 2002 foi para evitar a chamada de transferência de riqueza entre os cotistas.
Este é um fenômeno que acontecia quando a marcação na curva era implementada, e pode ser visualizado no exemplo e na tabela mostrada acima.
Do ano 1 até o ano 4, o valor encontrado na marcação na curva foi maior do que o valor encontrado na marcação a mercado.
Caso esta tabela representasse um fundo de investimento, e os cotistas resolvessem fazer saques antecipados, os que sacassem primeiro iriam ser capaz de reaver o seu dinheiro, enquanto que os que ficassem para depois perderiam dinheiro.
Isto acontece porque o valor real e atual do fundo é aquele que pode ser encontrado na marcação a mercado, que é o valor que você recebe pela venda naquele momento.
A marcação na curva só faz sentido caso a possibilidade de saque antecipado não seja uma realidade, porque como mostrado no exemplo, no período final não importa qual seja a mudança na taxa de juros, o resultado sempre será o mesmo.
Em um caso onde o saque antecipado seja possível, podemos perceber que em um cenário onde a taxa de juros aumenta, o preço do título irá cair, o que irá possibilitar o acontecimento de transferência de riquezas entre cotistas.
Vantagens e desvantagens da Marcação a Mercado
Vantagens
Uma grande vantagem da adoção da marcação a mercado é que ela pinta uma imagem mais precisa do valor atual de patrimônio de um investidor. Caso isso não fosse feito decisões errôneas poderiam ser levadas em consideração e cenários que levariam a perda de dinheiro poderiam ser tomados.
Outra vantagem desta metodologia é que com a sua aplicação mais transparência é integrada no mercado financeiro. Com isso, todos sabem quais são as suas respectivas posições.
Ela também evita que um fundo de investimento tenha uma apresentação de valor defasado quando comparado com a sua verdadeira posição, assim evitando a transferência de riqueza.
Desvantagens
A grande desvantagem desta metodologia é a de que ela pode levar a uma piora de um fundo em cenários negativos.
Isto acontece porque quando os investidores veem os seus títulos serem desvalorizados, muitos se assustam e podem acabar não tomando uma boa decisão, sacando o seu dinheiro na baixa, o que força o dinheiro do fundo mais pra baixo.
Isto acontece porque quando muitos cotistas sacam o seu dinheiro ao mesmo tempo o fundo pode ser obrigado a vender os seus ativos menos líquidos, e podem acabar não encontrando vendedores, o forçando a vender a um preço menor.
Com a marcação na curva este cenário seria evitado até certo ponto, porém, transferência de recurso entre cotistas poderia ser encontrada.
Graduado em Engenharia de Produção, possui o certificado CPA-20 e anos de experiência com investimentos no mercado financeiro. Trabalha há 2 anos no Banco IBM e é fundador da Sociedade do Investidor.